Amarcord é uma referência à
tradução fonética
da expressão a m' arcord (eu me lembro), usada na região da Emilia-Romagna,
onde nasceu o cineasta Federico Fellini, e que empresta o nome ao título a um
de seus filmes.
No drama histórico (série televisiva britânica) Downton Abbey, a personagem de Laura Carmichael, Lady Edith Crawley,
perdoa as maldades da irmã Lady Mary (Michelle Dockery), pois somente elas é que viveram
naquele lugar, tiveram aquelas experiências, apenas elas lembrar-se-ão de tudo
o que viveram.
Existe
uma velha canção brasileira, que lembro-me, era cantada por meu pai, cujo verso
mais marcante, pelo menos assim parece-me, diz “recordar é viver, vivo porque
amo você.”
Pixação em Coimbra - Portugal |
E
o fato de ter vivido com alguém, desse alguém alguma situação acaso
aproxima-nos mais? Sim, porque cremos que a mesma intensidade que nos atinge
também atinge o outro, mas nem sempre é assim, há casos de convivências longas,
o que não quer absolutamente dizer que seja uma longa amizade. Ter vivido algo
com outra pessoa não significa absolutamente que ela respeite aquele momento,
que ela tenha seu sentimento equiparado ao seu, pelo contrário, pode usar isso
inclusive como forma de envolvimento apenas para tirar lá suas vantagens, seja
um almoço “grátis”, um empréstimo, um contato com alguém que conheces e que a
ela interessa. Viver com alguém uma situação agradável pode trazer saudosismo,
mas o mais das vezes as saudades são de quem éramos naquele momento, de nossa ingenuidade
perdida, da nossa fé no outro, de termos rido sem reservas.
E
as más lembranças? Ah, essas fustigam de fato e com requintes de fixação na
mente que são um chiclete; quanto mais queremos nos livrar delas mais se fixam.
Pode haver quem nunca tenha perdido o sono por lembrar uma vergonha ou raiva
que passou em 1930, o que não é meu caso, perco o sono e tenho a mesma vergonha
ou raiva. As situações são revividas e a raiva também. Lembro (sim o texto é
sobre reminiscências então o verbo lembrar vai repetir-se à exaustão, oublié?) de uma situação onde um sujeito
que fazia questão de me lembrar de desagradáveis momentos profissionais, quando
a raiva me tomou, disse: “_Nossa, ficas com raiva, a gente relembra essas coisas
pra relaxar, não é pra ficar com raiva.” E respondi-lhe: Fico com raiva sim, isso
não é pra relaxar, queres que eu relaxe faz-me um bom boquete que isso sim,
relaxa pra caramba.
Não
precisamos de pessoas a lembrar-nos momentos maus, eles aparecem por si. E recordar
momentos bons, vá lá, não são argumentos para se perdoar sacanas. Que me
desculpe lady Edith.
Sempre
disse que se pudesse escolher quais os neurônios seriam queimados, eu seria
adepto da cocaína e de outras drogas, mas como não se escolhe, melhor deixá-los
intactos, as raivas e decepções já os queimam o suficiente.
Quantas
supostas amizades já tivemos e gostaríamos de esquecer? Quantas pessoas já
estiveram conosco e nos esquecemos seus nomes, ou pior, seus rostos? Quantas
vezes não nos chega alguém e fala de uma situação ou uma pessoa da qual já não
nos lembramos? Quantas senhas esquecemos? E parentes, tios, primos, ou
vizinhos, colegas de escola, que são apenas um mero rosto, sem que os liguemos
mais a nada, ou então colocamos lá junto a imagem desse rosto uma palavra-chave:
“metida”, “chata”, “bonzinho”...
E
o outro lado dessa moeda sem valor, o sentimento que nos evoca a pessoa, às
vezes despertado por uma canção, um cheiro, um prato? “_Nossa, lembrei de
fulano!” E o fulano em questão nem era-lhe alguém tão ligado a si. As
lembranças estão ligadas aos conceitos que damos a uma situação ou personagem. É
mais fácil dar um parecer sobre algo ou alguém que esquecer algumas dessas
marcações que lhes fazemos. É dia de ferrar gado, ou melhor, qualificar
pessoas. Uma vez dada a alcunha ela gruda-lhe, e embora a primeira impressão geralmente
seja errada, ela é a principal responsável por essas tatuagens mentais que lhes
emprestamos. “Ai, a primeira vez que te vi achei-a tão...” E o qualificativo
fica por conta de cada um. – Riem-se disso ambos, se a amizade está em voga, ou
se já não está a frase é outra: “Bem que quando eu a conheci tive a impressão
de que era...” e acrescente-se: “minha intuição não fa-lha”.
Esse
é um daqueles textos onde o fogacho da narrativa é o sentimento e por isso
mesmo ele pode não ter lógica alguma, talvez mais um desabafo que uma reflexão,
enfim é o que temos pra hoje, um texto onde se relembram sentimentos, ou melhor
onde lembra-se de falar das lembranças, sem fim, sem fio condutor, apenas isso:
um texto a ser lembrado, ou quiçá, a ser esquecido.
Já estava com saudades, e você é uma das lembranças mais gostosas e carinhosas que possuo. Grande beijo
ResponderExcluirObrigado querida, também estás sempre em minhas lembranças agradáveis. Saudades grandes. Beijão
ExcluirFalando em lembranças, lembrei do seu texto que eu adoro: aquele do café numa tarde chuvosa..amo aquele texto!! Lembra? Bjss Dja!!!
ResponderExcluirHummm. Café da tarde... Isso lembra-me de ir tomar um
ExcluirJá! Rsrs
Saudades de vc! Vamos ver se pelo computador o comentário aparece.
ResponderExcluirDeu certo! bjs
ExcluirQue bom. Saudades também Rô. Estás também sempre em minhas lembranças.
Excluir"Ivete, Ivete!!!" rsrs
lembrei de vc e vim ao blog. saudades de ler suas prosas... saudades de vc. bj
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