Hoje é
aniversário de nascimento de meu pai. Faria então 83 anos.
Cada
vez estou mais parecido com ele, sobretudo em algumas coisas que eu nem
gostava. Genética? Transferência espiritual? Gênio?
O mau
feitio que se reproduz...
Gestos,
tiques, manias, cólera...
Ai de
mim... Pobre d'ele...
Tentou...
Agora
tento eu...
A
conclusão de que sou feliz chegou-me há pouco tempo. A ele nunca soube se algum
dia chegou. Acredito que sim, embora eu creia mais em momentos felizes que em
felicidade de fato, num sentido de que essa seja uma satisfação permanente,
isso nada mais é que uma história de trancoso.
Deveria
ter conversado mais... Tê-lo entendido melhor. Mas é isso o conviver, o ser
filho, os enfrentamentos, os complexos, as culpas... Renato Russo já dizia: “Você
diz que seus pais não o entendem, mas você não entende seus pais. São crianças
como você, o que você vai ser quando você crescer.”
Saturno Devorando um Filho, de Peter Paul Rubens |
Talvez
seja isso. Só os anos, e, no meu caso, muita sessão de psicanálise para chegar
próximo desse reconhecimento. Primeiro a desconstrução da personagem “pai”,
para depois a reconstrução desse pai humano e falho. As desatenções, reais ou fictícias,
os pequenos crimes ante uma mente infantil, adolescente e por fim adulta. O
perdão, a falta, o carinho, as falhas todas, sem levarmos em contas as
tentativas e adversidades.
Lembro
do último abraço em frente de casa enquanto o táxi esperava-me para levar-me ao
aeroporto. O pedido a meu companheiro que pintasse-lhe as janelas do quarto. O
dia que me disse que o importante era ser feliz, sua mania de catar as folhas
do quintal mal elas tivessem caído, os montes de terra que ali fazia, e que dizíamos
a galhofa serem túmulos. O seu jeito de tomar café, que após ver-me filmado,
sem que eu soubesse, a fazer o mesmo era o mesmo modo, ipsis litteris. Numa
outra filmagem que vi depois, ocorrida em um sarau de literatura, também o
reconheci ali, em minha imagem, a mesma gestualidade, postura, olhar...
Eu sou
meu pai. Disse isso ao psicanalista na sessão seguinte após ver-me nesse vídeo,
postado por uma conhecida no livro das faces. Hoje o reconheço em mim. Muito
mais do que gostaria.
Minha
mãe, numa conversa (não comigo) um dia disse que eu tinha-lhe herdado a braveza.
Quando soube disso fiquei pensativo e não sei se reconheci de imediato. Mas é
fato o mau feitio que veio naquele gameta.
Meu
pai...
Como
queria ter ouvido coisas, dito coisas... Mas sempre é tarde. E hoje percebo o
quanto ele sonhou, tentou... Lutando contra seus instintos, contra a condição
social, contra o vício, contra os conceitos e preconceitos que trazia em si.
Ele
faz-me falta.
Lindo!!! E mais lindo ainda a descoberta de si mesmo... será que o seu amor pelo seu pai não te fez ficar como ele era? Bjss Dja...adorei o texto...vc escreveu com o coração... ☺️
ResponderExcluirQue texto!!! "Seu" Olavo está sentado em uma preguiçosa com as pernas cruzadas, tomando um cafezinho, e orgulhoso dos filhos que tem. Adorei o texto!!!💕
ResponderExcluirMuito lindo, Djair!!!! Adoramos!!!
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